O que justifica as possibilidades do uso da palatinose no contexto clínico?
A palatinose é um tipo de carboidrato de baixo índice glicêmico, um dissacarídeo formado por uma molécula de glicose ligada a uma de frutose. A ligação glicosídica que une os dois monossacarídeos é quebrada de forma lenta pelo complexo enzimático sacarase-isomaltase, presente nos enterócitos da borda de escova intestinal, o que resulta em uma absorção completa desses componentes, porém em uma taxa de velocidade mais controlada. A consequência metabólica disso é um aumento gradual e constante da glicemia, com menor excursão da insulina e outras incretinas, como o GIP.
Atualmente, padrões alimentares com baixo índice glicêmico são considerados como uma estratégia potencialmente benéfica no controle e perda de peso, assim como na prevenção e manejo de condições que caracterizam a síndrome metabólica. Doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 apresentam uma forte associação com flutuações recorrentes da glicemia, muito mais do que com níveis de glicoses altos de forma constante. Isso não significa que devemos proporcionar uma glicemia constantemente elevada, mas que é importante evitar as suas flutuações – e essa é, justamente, uma consequência metabólica do uso de carboidratos com menor índice glicêmico.
Em quais situações e como usar a palatinose com pacientes clínicos?
Pacientes com obesidade, em risco de desenvolvimento – ou em tratamento – de diabetes tipo 2, alterações do lipidograma e com diagnóstico de condições cardiovasculares podem ser extremamente beneficiados pela substituição de carboidratos com maior índice glicêmico (como sacarose e maltodextrina, por exemplo) pela palatinose. Outras condições que envolvem desregulação do metabolismo glicídico e resistência à insulina também podem favorecer o uso.
Devido à taxa de absorção mais lenta e constante da glicose após o consumo da palatinose, a liberação de insulina também acontece de forma mais controlada, reduzindo o estímulo para lipogênese e favorecendo a oxidação lipídica – parâmetro benéfico para perda de peso, assim como para prevenção de condições cardiometabólicas. Com menor excursão glicêmica, também há um favorecimento para maior controle da ingestão energética por conta da diminuição da sensação de fome.
Resultados favoráveis no controle da glicemia e insulinemia com o uso de palatinose foram encontrados em diferentes grupos populacionais, desde indivíduos saudáveis até pacientes com sobrepeso, obesidade, resistência à insulina, pré-diabetes ou com a patologia diabética já instalada (tipos 1 e 2). Outro parâmetro que apresenta melhora com a substituição dos tipos de açúcares na dieta por aqueles de mais baixo IG é o lipidograma, trazendo mais uma aplicabilidade para a inclusão da palatinose.
A inclusão pode ser feita em refeições como o café da manhã e almoço, com efeito agudo na glicemia pós-prandial e redução da variabilidade glicêmica nas 24 horas seguintes. Um achado importante é o da possível sinergia com o uso concomitante de prebióticos, tal qual a inulina. A melhora na composição da microbiota também tem efeito na melhora do perfil glicêmico, potencializando os efeitos da palatinose.
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Referências bibliográficas
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