Palatinose: um carboidrato extremamente versátil
Formada por uma unidade de glicose e outra de frutose, conectadas por uma ligação glicosídica alfa -1,6, a palatinose é um dissacarídeo que apresenta um baixo valor de índice glicêmico (32). Para ser absorvida pelas células intestinais, passa pela hidrólise via complexo enzimático sucrase-isomaltase. Como esse processo acontece de forma lenta, a sua absorção também é mais devagar, porém completa, tendo em vista que as enzimas que realizam sua quebra localizam-se na membrana tipo escova do intestino – ou seja, é digerida no mesmo local de absorção. Com isso, o resultado é: menor impacto glicêmico, menor estimulação da liberação de insulina e incretinas e ausência de fermentação, reduzindo a chance de desconforto abdominal com seu consumo.
Aplicabilidades clínicas
A cinética de digestão e absorção da palatinose lhe confere algumas potencialidades de uso terapêutico. Trabalhos que avaliaram a inclusão desse carboidrato na rotina alimentar de pacientes com diabetes tipo 2 observaram um menor impacto glicêmico da refeição em que ele foi adicionado, ao mesmo tempo que também houve um controle da flutuação glicêmica nas horas seguintes. O uso no longo prazo, por sua vez, refletiu na melhora de parâmetros que estão associados aos níveis glicêmicos no longo prazo, como a hemoglobina glicada.
O controle da quantidade de glicose no sangue acarreta também menor necessidade da liberação de insulina, reduzindo os seus níveis séricos. Como esse hormônio inibe a lipólise e estimula a lipogênese, uma vez que sua secreção é reduzida, também parece haver aumento da oxidação de gordura e melhora dos parâmetros lipídicos no sangue. Dessa forma, a aplicabilidade clínica da palatinose se estende para prevenção de doenças cardiovasculares.
Aliada no manejo de peso
Estratégias dietéticas que trabalham a inclusão de alimentos com baixo índice glicêmico são consideradas de grande potencial para o manejo do excesso de peso. Isso porque níveis mais controlados de glicemia facilitam o controle da ingestão calórica ao reduzir a sensação de fome. O efeito acima citado, de menor secreção da insulina e, consequentemente maior estímulo para a oxidação de gorduras, é outra potencialidade do uso da palatinose na rotina de pacientes que buscam reduzir o peso.
Uso no dia a dia
A palatinose pode ser, ainda, uma opção para substituir o açúcar, sendo inclusive, considerada por alguns autores como a “substituição ideal” para esse alimento. Apesar de possuir apenas metade do poder adoçante da sacarose, apresenta características organolépticas de cor e textura similares ao açúcar tradicional, porém, com impactos metabólicos muito mais favoráveis.
Estudos atestam a segurança de seu uso em seres humanos, não tendo sido encontrados efeitos embriotóxicos, teratogênicos ou mutagênicos. Com isso, esse carboidrato “ganha pontos” na comparação com outros adoçantes artificiais, que causam, ainda, efeitos deletérios à saúde intestinal – prejuízo não observado com o uso da palatinose.
Uma opção para atletas de endurance
O efeito de menor flutuação glicêmica resultante do consumo de palatinose, no cenário de esportes de longa duração, pode representar vantagens em relação ao uso de outros carboidratos, como a maltodextrina ou a sacarose. Isso porque, sem provocar hiperinsulinemia, a palatinose é capaz de manter uma glicemia mais constante ao longo do tempo, o que se reflete em uma manutenção da performance durante toda a sessão de treinamento ou competição.
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Referências bibliográficas
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König, D., Theis, S., Kozianowski, G., & Berg, A. (2012). Postprandial substrate use in overweight subjects with the metabolic syndrome after isomaltulose (Palatinose™) ingestion. Nutrition, 28(6), 651–656. doi:10.1016/j.nut.2011.09.019
Sakuma M, Arai H, Mizuno A, Fukaya M, Matsuura M, Sasaki H, Yamanaka-Okumura H, Yamamoto H, Taketani Y, Doi T, Takeda E. Improvement of glucose metabolism in patients with impaired glucose tolerance or diabetes by long-term administration of a palatinose-based liquid formula as a part of breakfast. J Clin Biochem Nutr. 2009 Sep;45(2):155-62. doi: 10.3164/jcbn.09-08. Epub 2009 Aug 28.
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