Carboidratos de baixo índice glicêmico e endurance
Em exercícios de endurance, os carboidratos são as principais fontes de substrato energético para as células manterem o seu trabalho adequado e, consequentemente, possibilitarem boa performance. Quanto maior for a duração do exercício, mais relevante se torna a atenção com uma entrega constante de energia para as células, pois a tendência é que o corpo use mecanismos de contra regulação para manter funções vitais, visto que o exercício é considerado um estressor para o organismo.
Nesse cenário, o uso de carboidratos com índice glicêmico mais baixo durante a prática física tem o potencial de ser uma boa estratégia para manter a performance desejada. Isso se deve ao fato de proporcionarem uma entrega mais constante de glicose para o sangue, auxiliando na preservação do glicogênio muscular, uma disponibilidade mais sustentada de carboidrato ao longo do exercício e manutenção de uma glicemia favorável, primordial para evitar a fadiga central.
A palatinose: o carboidrato de baixo IG ideal para o exercício
Estudos que avaliam o impacto do consumo de palatinose, em diferentes contextos – do clínico ao esportivo -, observam menor alteração dos níveis de glicemia, insulina e do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose com a ingestão desse carboidrato comparado com outras formas do nutriente. Tais observações, no cenário de esportes de longa duração, podem representar vantagens em relação ao uso de outros carboidratos, como a maltodextrina. Isso porque, sem provocar hiperinsulinemia, a palatinose é capaz de manter uma glicemia mais constante ao longo do tempo, o que se reflete em uma manutenção da performance.
Mesmo com uma digestão e absorção mais lenta dos monossacarídeos que formam a palatinose, a ingestão desse carboidrato é capaz de aumentar a osmolaridade do plasma sanguíneo assim como a sacarose. Dessa forma, pode ser utilizada para evitar a desidratação durante o exercício, assim como é útil para auxiliar no processo de reidratação após exercícios em situações de calor extremo. Outro ponto que poderia ser levantado como impeditivo no uso desse tipo de carboidrato no esporte diz respeito ao desconforto gastrointestinal gerado pelo processo digestivo mais demorado. Porém, pesquisadores que analisaram esse parâmetro como parte de seus estudos de comparação da utilização da palatinose e outros carboidratos de mais rápida digestão, como a maltodextrina, não encontraram diferenças nas respostas dos participantes.
Alguns trabalhos mostram um aumento da oxidação de gordura em algum momento dos protocolos de treinamento utilizados, mas ainda não há um consenso quanto às alterações no uso de substratos durante o exercício após a ingestão de palatinose. Outra questão ainda sem consenso diz respeito ao efeito sobre a percepção subjetiva de performance. Em um estudo feito com jogadores de futebol, por exemplo, apesar de não haver uma atenuação da redução da performance durante o treino prolongado, a palatinose foi capaz de manter a euglicemia e atenuar o aumento da liberação de epinefrina (um dos mecanismos contra regulatórios que pode prejudicar a performance).
Dessa forma, as evidências apontam para um saldo positivo de benefícios do uso da palatinose no contexto esportivo, principalmente naqueles exercícios que dependem de uma glicemia constante por um longo período de tempo.
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Referências bibliográficas
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