Tensão Pré-Menstrual – Sintomas e fisiopatologia
Ainda hoje não existe um consenso definido para explicar porque algumas mulheres apresentam os sintomas da TPM e outras não, tampouco a variabilidade na sua intensidade, mas algumas hipóteses são feitas sobre o mecanismo por trás deles:
- Tendência para mudanças de humor, com prevalência de sintomas mais ansiosos, depressivos e irritabilidade, devido à alterações na sinalização de neurotransmissores como a serotonina e o GABA;
- Aumento da sensação de fome, resultante de um leve aumento de gasto energético;
- Busca por alimentos mais calóricos e hiper palatáveis, especialmente aqueles mais ricos em carboidratos, gorduras, açúcares simples e sal, que está associada à redução na sinalização de dopamina e serotonina no sistema de recompensa;
- Sensação de inchaço por maior retenção hídrica e alterações no funcionamento intestinal, por ação da progesterona que aumenta os níveis de aldosterona e lentifica o trânsito intestinal, respectivamente;
- Dores, especialmente na região pélvica (as “cólicas menstruais”) diretamente associadas ao estado inflamatório na região uterina, nos seios e de cabeça, assim como outras possíveis alterações psiquiátricas e físicas que geram prejuízos para as atividades diárias da mulher.
Inflamação e o final do ciclo menstrual
Um ponto chave na compreensão fisiológica da TPM é que a menstruação demanda um movimento de expulsão da camada que se proliferou no útero (o endométrio) e, sem a fecundação, não terá utilidade. Para isso, ocorre o aumento da síntese de prostaglandinas de natureza inflamatória e vasopressina para aumentar a contração da musculatura uterina, o que acaba, também, resultando na maior percepção de dor.
Quanto mais propício à inflamação estiver o organismo de maneira geral, maior vai ser o número de prostaglandinas inflamatórias liberadas. Esse ambiente mais “propício à inflamação” existente em algumas mulheres, rico em marcadores de inflamação crônica de baixo grau (IL-1, IL-6, TNF alfa e PCr, por exemplo) nada mais é que o resultado de hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, sono inadequado e estresse elevado. Os fatores psicossociais e de estilo de vida podem estar por trás do estado de inflamação crônica de baixo grau e estresse oxidativo que estão associados à maior severidade dos sintomas da TPM.
Nutrição avançada no contexto da TPM
Priorizar nutrientes chave e a oferta de compostos de natureza anti-inflamatória e antioxidante pode ser um caminho interessante para gerar um maior alívio dos sintomas, sem abuso de medicamentos anti-inflamatórios e para amenizar a dor. Sem ajustes específicos, esse momento que acontece quase que mensalmente pode, ainda, levar a aumentos expressivos da ingestão energética, colaborando para o aumento de peso.
Um aumento leve e planejado das calorias pode auxiliar na adesão aos planejamentos alimentares. É hora de caprichar na comida de verdade, mas estratégias pontuais como incluir uma pequena porção do doce de preferência, em horários estratégicos como naqueles periféricos à prática de exercício pode ser interessante. Em relação à composição nutricional, aumentar o aporte proteico pode ser uma possibilidade, atuando na melhora da sinalização da saciedade. Além disso, é importante dar preferência para carboidratos complexos, que ajudam a controlar a compulsão por consumir esse macronutriente, sem causar grandes picos glicêmicos, que podem aumentar ainda mais a vontade de comer.
Suplementações estratégicas para as mulheres que sofrem com a TPM
A suplementação com vitamina B1, que tem sua deficiência associada à fadiga, cólicas e maior percepção de dor, pode ter resultados positivos, especialmente na redução das cólicas menstruais, mas apenas na presença de níveis insuficientes dessa vitamina na alimentação. O uso do ômega 3, um nutriente com característica anti-inflamatória, especialmente no longo prazo, também parece ter efeito positivo na redução das cólicas menstruais, devido à alteração do perfil dos fosfolipídeos de membrana que originam as prostaglandinas (o ácido graxo poli insaturado ômega 6 é metabolizado nas prostaglandinas específicas associadas com a dismenorréia).
A vitamina E, devido aos seus efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e, possivelmente, analgésicos, também deve ter o seu aporte feito de maneira adequada e suficiente em mulheres que sofrem com dores diversas no período da TPM. Outra vitamina que pode ter efeito benéfico na redução das cólicas menstruais é a piridoxina (vitamina B6), devido ao seu papel na produção da prostaglandina E2, que está associada ao maior relaxamento do miométrio, podendo contribuir na menor percepção das dores. O uso do magnésio pode ser pensado para mulheres que sofrem de queixas de alterações no padrão de sono nessa fase.
—
Artigos relacionados
Como a composição corporal impacta na saúde?
Controle glicêmico e insulinêmico do exercício
Zinco, selênio e cobre: minerais antioxidantes
Referências bibliográficas
Geiker, N. R., Ritz, C., Pedersen, S. D., Larsen, T. M., Hill, J. O., & Astrup, A. (2016). A weight-loss program adapted to the menstrual cycle increases weight loss in healthy, overweight, premenopausal women: a 6-mo randomized controlled trial. The American Journal of Clinical Nutrition, 104(1), 15–20. doi:10.3945/ajcn.115.126565
Hofmeister, S. & Bodden, S. (2016). Premenstrual Syndrome and Premenstrual Dysphoric Disorder. Am Fam Physician. 94(3):236-240
Kwon, Y. J., Sung, D. I., & Lee, J. W. (2022). Association among Premenstrual Syndrome, Dietary Patterns, and Adherence to Mediterranean Diet. Nutrients, 14(12), 2460. https://doi.org/10.3390/nu14122460
Pattanittum, P., Kunyanone, N., Brown, J., Sangkomkamhang, U. S., Barnes, J., Seyfoddin, V., & Marjoribanks, J. (2016). Dietary supplements for dysmenorrhoea. The Cochrane database of systematic reviews, 3(3), CD002124. https://doi.org/10.1002/14651858.CD002124.pub2