Conhecendo a prevalência da deficiência de Vitamina D no Brasil

Para conhecer a prevalência da deficiência de Vitamina D no Brasil, precisamos ter em mente que valores exatos, de forma geral, são bastante complicados de obter, visto que nosso país apresenta regiões com diferentes níveis de incidência solar ao longo do ano – e isso impacta diretamente o status dessa vitamina no organismo. Muitos estudos e pesquisas acabam, então, extrapolando dados de achados com grupos menores para chegar a, pelo menos, um valor aproximado, visto que isso é importante para o delineamento de políticas públicas e para conhecermos o estado nutricional da população do país.

Tais estimativas apontam dados como: mais de 875 mil pessoas com mais de 50 anos apresentam níveis insuficientes de vitamina D. Considerando a população adulta, em idade economicamente ativa, 6 em cada 10 brasileiros apresentam essa deficiência. Já entre crianças e adolescentes, tal prevalência pode variar de 6 – 60% dependendo da faixa etária observada.

E esses dados tornam-se ainda mais preocupantes quando consideramos que os dados oficiais são, em sua maioria, de períodos pré-pandemia, com valores possivelmente muito maiores atualmente. Ainda há de se levar em conta que as pesquisas, de maneira geral, consideram como insuficientes níveis menores que 20 – 30 ng/ml, quando alguns estudos já nos mostram que um valor acima de 40 ng/ml é o desejável para garantir os efeitos benéficos desse nutriente.

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No momento de sua descoberta, o principal papel atribuído à vitamina D no corpo humano foi sua atuação na manutenção dos níveis de cálcio e fosfato no organismo, o que teria uma repercussão direta na saúde óssea. O aprofundamento no seu metabolismo nos revelou muito mais, e, ainda, que não se trata de uma vitamina comum: na verdade, estamos falando de um pré-hormônio, que é metabolizado para a sua forma ativa (1,25 – dihidroxivitamina D3 – também conhecida como calcitriol) em reações que acontecem na pele, fígado e rins. Uma vez nessa forma, a vitamina D apresenta uma atuação hormonal: ao se ligar nos seus receptores, é capaz de alterar a expressão dos genes daquela célula, resultando assim em diferentes efeitos biológicos.

Hoje sabemos que células em diferentes órgãos do corpo apresentam receptores para esse hormônio, podendo assim ter seu funcionamento alterado por ela. Na época da pandemia, o papel imunomodulador da vitamina D ganhou bastante destaque, mas muitos estudos também mostram seu efeito sobre a diferenciação e inibição do crescimento celular, um fator de proteção contra o desenvolvimento de cânceres.

Quando em níveis deficientes, além do comprometimento para a integridade dos ossos, há um aumento da vulnerabilidade a infecções e surgimento de doenças autoimunes (em indivíduos predispostos geneticamente). A falta de vitamina D também parece estar associada a outras condições patológicas. A grande questão é que essa deficiência é extremamente prevalente no mundo todo. Apesar de alguns alimentos possuírem algum nível de vitamina D, a maior parte do suprimento dessa vitamina para o corpo acontece através da síntese na pele a partir da exposição solar. O problema é que diferentes fatores que reduzem a incidência dos raios UVB sobre a pele podem atrapalhar essa produção: latitude, estação do ano, período do dia em que a pessoa se expõe ao sol, uso de filtro solar, quantidade de melanina, tipo de vestimenta, poluição do ambiente e idade.

Esse processo de síntese cutânea acontece através da fotoconversão do 7-dehidrocolesterol, uma substância presente na pele, à pré-vitamina D3. Para que isso aconteça, o comprimento de onda necessário é o UVB, o mesmo causador de eritemas e lesões que podem se tornar câncer de pele. Esse fato faz com que muitas pessoas temam se expor ao sol no horário e duração adequados, mas um estudo randomizado recente, demonstrou que o uso de protetor solar (FPS 15), em quantidades adequadas, parece não afetar a síntese de vitamina D ao mesmo tempo que protege a pele contra queimaduras de sol.

O verão é o melhor momento para garantir um aumento nos seus níveis. O horário e a duração do banho de sol são variáveis importantes na produção de vit. D, sendo o período de sol “mais forte” (10 – 15h) o ideal. Pessoas com pele mais clara precisam de menos tempo expostas ao sol para garantir uma boa produção, e à medida que a pele escurece, a maior quantidade de melanina faz com que maior tempo de exposição seja necessário para níveis satisfatórios. O intervalo varia entre 10 – 30 minutos.

Mas essa pré-vitamina produzida na pele ou até mesmo a forma que ingerimos via alimentação/suplementos, precisa ser ativada, o que acontece a partir de processos de hidroxilação no fígado e nos rins. Ou seja, não é só tomar sol: precisa estar com a saúde desses órgãos em dia.

Referências bibliográficas

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Bouillon, R., Marcocci, C., Carmeliet, G., Bikle, D., White, J. H., Dawson-Hughes, B., … Bilezikian, J. (2018). Skeletal and extra-skeletal actions of vitamin D: Current evidence and outstanding questions. Endocrine Reviews. doi:10.1210/er.2018-00126

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