A cognição compreende diferentes processos, como os de aprendizagem, memória e plasticidade sináptica, que dependem de um ambiente cerebral propício para que possam ocorrer de maneira eficiente e ilimitada. É impossível falar de saúde cerebral sem falar do DHA, o ácido docosahexaenóico. Esse ácido graxo de cadeia longa e insaturada é um tipo de ômega 3, ou seja, é um nutriente essencial, que precisa ser obtido a partir da alimentação para alcançar níveis satisfatórios, visto que não é produzido pelo organismo.
O DHA atua fisiologicamente a partir da sua incorporação à membrana das células, especialmente no sistema nervoso central, e além do relevante papel estrutural, também atua como precursor de moléculas sinalizadoras e ativa a transcrição de vários genes envolvidos no processo cognitivo.
A partir do segundo trimestre de gestação até aproximadamente o segundo ano de vida, o acúmulo de DHA no cérebro acontece em elevadas taxas, demonstrando a relevância desse nutriente para o adequado desenvolvimento cerebral, que é a base para que as funções relacionadas à aprendizagem possam ocorrer.
Ao longo da vida, a perda neuronal e outros prejuízos na função cerebral, estão relacionados à redução e enfraquecimento das sinapses cerebrais, estresse oxidativo e neuroinflamação, parâmetros que parecem ser reduzidos com o consumo suficiente e constante de DHA durante todos os diferentes ciclos da vida. Além disso, níveis adequados desse ácido graxo nas membranas das células neuronais contribuem para a transmissão de sinais, essencial nos processos de aprendizagem e memória.
Moléculas derivativas do DHA, como a neuroprotetina-1, apresentam significativa ação neuroprotetora, preservando a estrutura e fisiologia de neurônios e células da glia. Tal efeito se mostra fundamental no contexto da prevenção de desordens neurodegenerativas, como o Alzheimer, mas também na manutenção de um background cerebral favorável para o bom desenvolvimento cognitivo.
O seu nível de acumulação é diretamente proporcional à ingestão exógena, principalmente de DHA pré-formado, como o presente nas suplementações concentradas desse composto.
E além de manter o cérebro saudável para que os processos cognitivos aconteçam da melhor maneira possível, estes só acontecerão se as células neurais tiverem energia para funcionar. Um outro tipo de ácido graxo, os de cadeia média, conhecidos como TCM ou MCT, após serem absorvidos no intestino podem ser metabolizados em corpos cetônicos, o segundo substrato preferido pelo cérebro para produzir energia, perdendo apenas para a glicose.
A questão é que a glicose tende a gerar “picos” de energia, seguidos de sensação de fadiga. Os MCT, além de originarem os corpos cetônicos, que provém energia de maneira mais uniforme para o cérebro, ainda são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica (que protege o cérebro contra possíveis toxinas e excessos de nutrientes presentes no sangue) e apresentar outros efeitos no metabolismo energético da região cerebral, como o estímulo para biogênese mitocondrial, a organela celular responsável pela produção de energia.
Apesar dos ácidos graxos de cadeia média estarem presentes em diferentes alimentos, como o coco, a ingestão de forma mais concentrada é uma boa opção para acompanhar os momentos de estudos e potencializar a dinâmica energética cerebral, de maneira constante e eficiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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