A capacidade cognitiva dos humanos é, sem dúvidas, a mais avançada em todo o reino animal. Acredita-se que tal avanço seja conferido por um córtex cerebral e pré-frontal expandido e um sistema neural altamente desenvolvido. Existem muitos domínios diferentes relacionados à construção da cognição, e estes incluem atenção, memória a longo prazo, percepção, linguagem, resolução de problemas, compreensão, raciocínio, leitura e fala.
A cognição muda ao longo da vida assim como o desenvolvimento, maturação e envelhecimento do cérebro, órgão rico em lipídios que consome 20% da energia corporal, compreendendo apenas 2% da massa corporal total e enriquecido especialmente de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (PUFAs), como o DHA, o que sugere papel fundamental dessa gordura no desenvolvimento, maturação e envelhecimento de estruturas e redes neurais.
Os lobos frontais do cérebro são particularmente sensíveis ao fornecimento de DHA durante o desenvolvimento. Décadas de trabalho estabeleceram claramente as responsabilidades dos lobos frontais para execução de atividades cognitivas, incluindo atenção sustentada, planejamento e resolução de problemas, e o lobo pré-frontal, em particular, para o desenvolvimento social, emocional e comportamental. Portanto, manter a composição lipídica ideal nessas regiões cerebrais, e especificamente os níveis de DHA, não é apenas importante durante o desenvolvimento e maturação do cérebro desde a gestação, infância e adolescência, mas essa manutenção também é crítica para o envelhecimento bem-sucedido do cérebro na fase adulta.
O DHA é adquirido durante o desenvolvimento por meio da transferência gestacional da placenta e do leite materno durante a infância. O seu acúmulo no cérebro acelera durante a gestação, diminui na infância e atinge um platô no início da idade adulta. Metade do DHA do cérebro é acumulado durante a gestação, e o cérebro infantil adquire cinco vezes o nível de lipídios diariamente que o cérebro adulto, o que demonstra a importância da adequada ingestão de ácidos graxos poli-insaturados ao longo da vida.
Quantitativamente, o DHA é o ácido graxo poli-insaturado mais significativo para a saúde cerebral, constituindo mais de 90% dos ácidos graxos presentes no cérebro. O DHA está concentrado na substância cinzenta, e é armazenado principalmente em fosfatidiletanolamina (PE) e fosfolipídios de membrana de fosfatidilserina (PS), com quantidades menores também encontradas na fosfatidilcolina (PC), onde desempenha um papel importante na biossíntese de PS no cérebro. O cérebro humano metaboliza aproximadamente 4 mg de DHA por dia, resultando em uma estimativa de meia-vida de DHA cerebral de 2,5 anos, muito mais do que o DHA em tecidos periféricos. É importante ressaltar que embora o EPA tenha efeito anti-inflamatório agudo significativo no tecido neural e a absorvência de EPA e DHA para o cérebro sejam semelhantes, os níveis de EPA são extremamente baixos no tecido cerebral. Esta circunstância ocorre porque o EPA é rapidamente oxidado e removido do cérebro, ou é alongado para o ácido docosapentaenóico, que atua como um precursor para DHA.
O DHA é enriquecido em estruturas de membranas encontradas nos terminais sinápticos, mitocôndrias e retículo endoplasmático, e pode afetar características celulares e processos fisiológicos, incluindo fluidez de membrana, liberação de neurotransmissores, função do receptor transmembrana, expressão gênica, transdução de sinais, diferenciação e crescimento neuronal. A falta deste componente pode causar comprometimento da memória e da capacidade de concentração, pois estimula positivamente os neurônios, sendo o ácido graxo estrutural na matéria cinzenta do cérebro que promove comunicação entre células nervosas e permite sinapses para mantê-las funcionais. Por estar presente nas bainhas de mielina ao redor das fibras nervosas, o DHA facilita a neurotransmissão química, o que auxilia no humor, bem como a memória a longo prazo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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