A gravidez e a primeira infância são períodos cruciais para formação do cérebro, que estabelece a base para o desenvolvimento motor, cognitivo, social e emocional, além de habilidades ao longo da infância que se perpetuam até a idade adulta. A nutrição adequada neste período é necessária para garantir que nutrientes essenciais tenham um aporte adequado e promovam o desenvolvimento do feto.
Durante o período gestacional, as necessidades nutricionais aumentam para apoiar o crescimento adequado do feto, bem como dar suporte ao metabolismo materno. A placenta transporta ativamente da gestante para o feto, nutrientes essenciais para o desenvolvimento adequado do bebê, como água, glicose, ácidos graxos, vitaminas e minerais. Nesta fase, ocorre o início do desenvolvimento do sistema nervoso do feto e o status materno de DHA antes da concepção pode prejudicar o neurodesenvolvimento fetal. Estima-se que até 95% das mulheres em idade fértil e grávidas não atendam às recomendações da ingestão de DHA. O DHA materno é a fonte primária do ácido graxo para o feto, uma vez que não pode ser sintetizado no feto ou placenta. A placenta absorve preferencialmente DHA, e este transporte placentário visa atingir 8 a 9% de ácido docosaexaenoico (DHA) nas membranas dos eritrócitos do feto. O leite materno, maior fonte de energia para o bebê, é a melhor forma de se assegurar a oferta de ácidos graxos.
DHA durante a gestação
Os primeiros anos de vida são um período essencial de neurodesenvolvimento e os benefícios da suplementação de DHA durante a gravidez têm sido bem documentados. No cérebro, o DHA desempenha funções de sinalização, regulação e neurotransmissão e, quando em deficiência na gravidez, pode afetar a função cognitiva do bebê na fase adulta. Além disso, a coordenação de mãos e olhos pontua correlação positiva com os níveis de DHA nos eritrócitos do cordão umbilical. Quando a prática da amamentação é impossibilitada, o uso de suplementação surge como uma alternativa para a alimentação do lactente. Diante disso, a suplementação de DHA (200 mg/dia) a partir da 21ª semana de gestação e durante a lactação demonstra benefícios adicionais ao bebê, como aumento nos glóbulos vermelhos maternos e nos níveis de DHA na 37ª semana de gestação até 3 meses após o nascimento do bebê, bem como um aumento de DHA no leite materno.
Observa-se, também, que níveis de ácidos graxos poli-insaturados atuam na prevenção de alergias durante a infância, e o aumento de seu consumo reduz o nascimento prematuro antes das 34º semana da gravidez em 42%. Portanto, a suplementação de DHA durante gravidez promove melhor desenvolvimento dos bebês, o que afeta o desempenho em tarefas que demandam trabalho cognitivo, como resolução de problemas.
Na gestação há situações que podem alterar o aporte de DHA, como nutrição inadequada, consumo de gordura e óleos com alta proporção de ômega 6 e muito baixo aporte de ômega 3, o que é muito comum, e gestações frequentes e múltiplas que podem diminuir consideravelmente as reservas de DHA. Dessa forma, o impacto do DHA no desenvolvimento do bebê levou à recomendação da ingestão de 250 a 375mg de DHA + EPA, para mulheres grávidas e lactantes, segundo Dietary Guidelines for Americans.
Todavia, a suplementação deve ser vista com cautela, pois dependendo das quantidades e tipos de ácidos graxos poli-insaturados, pode-se inibir a conversão de ômega 6 em ácido araquidônico ou o alto teor de EPA pode competir com o ácido araquidônico pela incorporação de fosfolipídios nos tecidos. Portanto, as fórmulas devem conter, preferencialmente, ácido araquidônico e DHA, sendo que as quantidades devem ser próximas daquelas encontradas no leite materno.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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