A energia obtida a partir de calorias pode ser proveniente de 3 diferentes macronutrientes: carboidratos, gorduras e proteínas. Porém, muito além de entregarem energia para o corpo, esses macronutrientes têm diferentes impactos metabólicos e seguem destinos específicos no organismo. Indivíduos que desenvolvem diabetes tipo 2 geralmente perdem a habilidade de secretar insulina em resposta ao consumo de carboidratos. A insulina é um hormônio liberado pelo pâncreas, que atua no controle glicêmico, ao realizar a redução da quantidade de glicose no sangue a partir de sua entrada nas células, onde é utilizada para produção energética.
Além de dietas reduzidas em carboidratos e restrição energética, uma estratégia que pode auxiliar o controle do diabetes é o consumo de proteínas. Diferentes mecanismos estão por trás do melhor controle glicêmico proporcionado por um consumo adequado (ou até mesmo um pouco mais elevado) de proteínas.
Indivíduos com DM2 podem até aumentar a liberação desse hormônio em resposta ao consumo de proteínas, portanto, é preciso ter um acompanhamento e prescrição adequados. Além disso, a atuação de outros dois hormônios, o GLP-1 e o GIP, é importante para uma melhor resposta insulinêmica de quem possui DM2. Esses dois hormônios são considerados “insulinotrópicos”, pois potencializam a atuação das células beta pancreáticas, responsáveis pela secreção de insulina. No diabetes tipo 2, a liberação de GLP-1 não sofre alterações, enquanto o GIP perde muito do seu potencial de atuação. Certas proteínas, peptídeos e aminoácidos, no entanto, estimulam de maneira bastante expressiva a secreção desses hormônios, tanto em pessoas saudáveis quanto naquelas que possuem DM2.
A ingestão de uma dose de proteína anteriormente ao início da refeição é uma estratégia que apresenta efeitos positivos na glicemia pós prandial, com influência da melhor resposta insulinêmica obtida graças ao “pré load” proteico.
Além disso, certos aminoácidos são responsáveis por uma regulação glicêmica não insulino dependente. É o caso, por exemplo, da leucina: esse aminoácido de cadeia ramificada parece atuar sob vias de detecção de glicose, a nível cerebral e, assim, regulando o metabolismo de glicose e energia em todo o corpo.
Além de possível adjuvante no tratamento, o consumo de proteínas dietéticas em níveis adequados é um fator de proteção contra o risco de desenvolver DM2.
Associada à prática física, a ingestão de proteínas também colabora para aumento do tecido muscular esquelético, que é um dos sítios de maior utilização de glicose. O ganho de massa muscular apresenta relação positiva com a sensibilidade à insulina, enquanto a perda de massa muscular característica da sarcopenia, por exemplo, é um fator de risco para DM2.
Importante salientar que a matriz alimentar tem uma relevância considerável no efeito proteico sob a regulação glicêmica. A presença de fibras e fitoquímicos, como no caso das proteínas vegetais, e de peptídeos bioativos, cálcio e magnésio no leite e derivados, são exemplos de compostos que atuam de maneira sinérgica com o conteúdo de proteínas dos alimentos para exercer melhoras no controle da glicemia de indivíduos com DM2.
REFERÊNCIAS
Comerford, K., & Pasin, G. (2016). Emerging Evidence for the Importance of Dietary Protein Source on Glucoregulatory Markers and Type 2 Diabetes: Different Effects of Dairy, Meat, Fish, Egg, and Plant Protein Foods. Nutrients, 8(8), 446. doi:10.3390/nu8080446
De Sousa, M. V., da Silva Soares, D. B., Caraça, E. R., & Cardoso, R. (2019). Dietary protein and exercise for preservation of lean mass and perspectives on type 2 diabetes prevention. Experimental Biology and Medicine, 153537021986191. doi:10.1177/1535370219861910