Desmistificando o uso dos BCAAs

Os “BCAAs”, sigla em inglês para aminoácidos de cadeia ramificada, compreendem o trio de aminoácidos essenciais que ganhou fama no mercado da suplementação com alegações de que seriam capazes de promover aumento da resposta anabólica muscular. Uma série de estudos, na busca de comprovação das propriedades atribuídas a esse suplemento, se seguiram e resultaram em um estado da arte cheio de controvérsias acerca da sua eficácia.

O tecido muscular está constantemente em um estado conhecido como “turnover”, o que significa que a síntese proteica ocorre continuamente para repor proteínas que foram degradadas por processos metabólicos naturais. O estado anabólico é caracterizado por níveis de síntese excedendo o grau de catabolismo, o que possibilita deposição de proteínas e, no longo prazo, ganho de tecido muscular. O processo de produção de novas proteínas depende da presença de todos os 20 aminoácidos existentes, tanto os essenciais quanto os não essenciais. No caso dos últimos, o estoque é mais facilmente “reposto” pela produção endógena, porém, quando se trata dos aminoácidos essenciais (EAAs), estes devem ser obtidos via alimentação. Dessa forma, a ingestão dos EAAs após o exercício resistido promove resposta de aumento de síntese de proteínas no músculo. O grupo dos BCAAs é composto por 3 dos aminoácidos essenciais, leucina, valina e isoleucina. Contudo, a síntese proteica depende da presença de todos os nove aminoácidos essenciais, sendo impossível alcançar resposta anabólica adequada com o consumo exclusivo dos BCAAs.

É bem estabelecida a função da leucina, um dos BCAAs, como sinalizador para o processo de síntese proteica, tendo em vista que é um dos principais estímulos da via mTOR. Logo, a capacidade de maior estimulação da síntese proteica miofibrilar é uma alegação válida para esse aminoácido, porém, a ingestão de BCAAs sem a presença dos outros aminoácidos essenciais não é suficiente para o processo de síntese proteica adequada.

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Nesse ponto, é importante ter em mente que uma resposta de aumento de síntese proteica muscular não necessariamente implica em hipertrofia muscular. Quando se fala em síntese de proteínas no ambiente intramuscular, estão incluídos diversos tipos proteicos, não apenas as proteínas contráteis que compõem a estrutura muscular. A síntese proteica miofibrilar é um parâmetro com correlação mais próxima ao processo de ganho muscular e, mesmo assim, é necessário que sobreponha o grau de degradação proteica para resultar em aumento da quantidade de massa muscular.

Dessa forma, para garantir o estímulo e a ocorrência eficiente da síntese proteica, é muito mais vantajoso o consumo de uma proteína completa, contendo as doses adequadas de  todos os aminoácidos. A vantagem tem respaldo científico, visto que estudos que fazem a comparação entre o uso de “enriquecimento” de proteínas com BCAAs e o uso de proteínas completas, não encontram superioridade a favor da utilização da suplementação dos aminoácidos de cadeia ramificada.

Outra funcionalidade atribuída aos BCAAs é a de manutenção de massa muscular. Tal alegação surgiu com base em estudos que demonstraram a redução da degradação das proteínas corporais totais com o consumo de BCAAs, provavelmente por atuação de um metabólito da leucina. Realmente, alguns estudos corroboram com uma diminuição de degradação proteica, porém em níveis mínimos e não é possível garantir que tal proteção ocorra necessariamente nas proteínas musculares.

Tomando como base as evidências atuais, a suplementação com proteínas completas e aminograma de qualidade exclui a necessidade de adição de BCAAs à rotina de indivíduos praticantes de atividade física que desejam aumentar os níveis de massa muscular. O estímulo que a leucina traz é o passo inicial para construção proteica, porém necessita de todos os EAAs para alcançar as taxas máximas e produzir resultados favoráveis.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Jackman, S. R., Witard, O. C., Philp, A., Wallis, G. A., Baar, K., & Tipton, K. D. (2017). Branched-Chain Amino Acid Ingestion Stimulates Muscle Myofibrillar Protein Synthesis following Resistance Exercise in Humans. Frontiers in Physiology, 8. doi:10.3389/fphys.2017.00390

Wolfe, R. R. (2017). Branched-chain amino acids and muscle protein synthesis in humans: myth or reality? Journal of the International Society of Sports Nutrition, 14(1). doi:10.1186/s12970-017-0184-9

Churchward-Venne, T. A., Burd, N. A., Mitchell, C. J., West, D. W. D., Philp, A., Marcotte, G. R., … Phillips, S. M. (2012). Supplementation of a suboptimal protein dose with leucine or essential amino acids: effects on myofibrillar protein synthesis at rest and following resistance exercise in men. The Journal of Physiology, 590(11), 2751–2765. doi:10.1113/jphysiol.2012.228833

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