Decorrente de relatos de caso e estudos com baixa qualidade científica, com fisiculturistas que vieram a falecer e que utilizavam creatina na dosagem de 200g/dia, concomitantemente ao uso de esteroides anabolizantes e ao diagnóstico de doença renal crônica que detinham, até anos atrás tinha-se a ideia forte de que a creatina poderia levar o prejuízo da função hepática e principalmente, da função renal. Porém, vamos explicar que o que temos na literatura hoje em dia, é bem o oposto disso.
Qual a suposição por trás da ideia de que a creatina prejudicaria a função renal?
A ideia de que a suplementação da creatina prejudicaria a função renal se dá devido a possíveis alterações em marcadores de função renal. Em seu metabolismo, a creatina pode produzir com um metabólito uma molécula que se chama creatinina. A creatinina, junto com a taxa de filtração glomerular, a Cistatina C, a reabsorção tubular e a permeabilidade glomerular da membrana renal, são marcadores de função renal muito usados na interpretação de exames laboratoriais. Porém, há estudos nos quais os voluntários foram acompanhados por até 5 anos sob a intervenção da suplementação da creatina, nos quais não foram vistas modificações consideráveis estatisticamente em indivíduos com função renal previamente saudável, em nenhum dos marcadores de função renal.
Em casos de alteração no nível sérico de creatinina a partir da suplementação de creatina, tal elevação deve ser acompanhada da análise de outros marcadores como a Cistatina C, para que de fato seja avaliado se o aumento de creatinina não tenha sido consequência da deterioração renal. Além disso, há outros fatores que podem estar envolvidos, como a perda de massa muscular, a dieta e a realização do exercício físico.
O resultado de uma meta-análise e revisão sistemática publicada no último ano
Quando paramos para analisar como se dá uma pirâmide de evidências científicas, vemos que o topo da pirâmide é composto pelo estudo de meta-análise e revisão sistemática, que de modo simples, consiste de uma análise estatística sobre os resultados já publicados de estudos sobre um tema específico. Acerca da suplementação da creatina na função renal de indivíduo saudáveis, foi publicada recentemente uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos randomizados, com o objetivo de investigar os possíveis efeitos da suplementação da creatina na função renal (Souza e Silva et al., 2019). Para tal, após a análise de 290 estudos não-duplicados, 15 foram incluídos na análise qualitativa e 6 na quantitativa do suplemento.
De modo geral, os protocolos avaliados utilizaram dosagens entre 4-20 g/dia, por um período intervencional de até 132 semanas, nos quais foi avaliado o nível sérico de creatinina e/ou nível plasmático de uréia. Como resultado, foi constatado que a suplementação de creatina não altera significativamente os níveis séricos de creatinina, nem os níveis plasmáticos de uréia. Portanto, por meio desses resultados encontrados, observa-se que a suplementação da creatina NÃO induz a danos na função renal de indivíduos saudáveis.
Portanto, saiba que a suplementação da creatina é uma estratégia segura ao seu paciente com função renal preservada. No que se refere ao paciente com doença renal crônica, ainda são necessárias mais pesquisas, mas até o momento se sabe que também não leva a alterações significativas nos marcadores de função renal. Até logo!
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Referências bibliográficas:
SILVA, Alexandre de Souza e et al. Effects of Creatine Supplementation on Renal Function: a systematic review and meta-analysis. Journal Of Renal Nutrition, [S.L.], v. 29, n. 6, p. 480-489, nov. 2019.
Poortmans JR, Francaux M. Long-term oral creatine supplementation does not impair renal function in healthy athletes. Med Sci Sports Exerc. 1999.
KREIDER, Richard B. et al. International Society of Sports Nutrition position stand: safety and efficacy of creatine supplementation in exercise, sport, and medicine. Journal Of The International Society Of Sports Nutrition, [S.L.], v. 14, n. 1, p. 1-27, 13 jun. 2017.